Sexta, 23 Outubro 2009 09:46

O ano do digital

Em 2018, o livro digital deverá desbancar a tradicional versão em papel - a previsão é uma das principais conclusões de uma pesquisa feita pelos organizadores da 61ª Feira do Livro de Frankfurt, a maior no mundo do mercado literário, que abre suas portas oficialmente hoje. Foram consultadas 840 pessoas que mantêm alguma ligação com o evento, entre editores, livreiros, escritores e jornalistas, a maioria europeus. "É o momento, portanto, de se buscar novas estratégias, de esquadrinhar o mercado e de envolver o padrão internacional", comentou Jürgen Boos, diretor da Feira.

A pesquisa, de fato, demonstra uma radical mudança de atitude no mundo editorial. Se, no ano passado, 40% acreditavam que 2018 marcaria o início do domínio digital, a cifra cresceu agora para 50%. A crise econômica é citada como principal incentivadora para tal mudança de opinião - é preciso buscar alternativas. "A indústria continua atrás de estratégias econômicas envolvendo produtos digitais", comentou Thomas Wilking, um dos organizadores da pesquisa. "O foco está em encontrar uma opção que complemente ou mesmo substitua o custoso modelo de papel."

Os números mostram que há, de fato, uma tendência para a mudança de mercado. A Alemanha, por exemplo, registrou a venda de 65 mil e-books vendidos no primeiro semestre deste ano. Por outro lado, o novo livro do mega campeão de vendas Dan Brown, O Símbolo Perdido (que a Sextante lança no Brasil no dia 24 de novembro), rendeu mais na versão em papel: dos primeiros 2 milhões de exemplares vendidos, apenas 100 mil eram e-books.

O assunto, portanto, domina as discussões que antecipam a feira, como reconhece o editor da Objetiva, Roberto Feith (leia artigo). E os brasileiros ainda estão céticos em relação à mudança - ao menos em relação ao mercado do País. "Não sou chegado em previsões e palpites", observa Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras. "Quem pode garantir? E se for menos, ou mais? O que importa é que seja o melhor para a leitura, e nós profissionais que lutemos por isso, em um dia ou 18 anos."

Já Luciana Villas-Boas, diretora editorial da Record, prefere medir a temperatura a partir das transformações do mercado estrangeiro. "Sem dúvida, a passagem da leitura em papel para o formato digital ganhou imensa aceleração nos últimos 12 meses nos Estados Unidos", comenta. "Na Europa, a resistência é um pouco maior. À medida que os fundos de catálogo passem a ser oferecidos eletronicamente, é possível que em muitos territórios, até 2018, o digital ultrapasse o papel em termos de importância econômica para as editoras."

Curiosamente, Sérgio Machado, presidente do Grupo Record, acredita na vida longa do livro em papel - quando anunciou o lançamento de um novo selo, Best Business, no mês passado, Machado foi enfático ao afirmar que, para existir no Brasil, a obra digital vai necessitar ainda durante muito tempo de uma base, que é o texto publicado antes em papel. Mesmo assim, ele segredou ao Estado que já enfrenta dificuldades na renovação de direitos autorais de alguns escritores estrangeiros. "Seus agentes já querem fixar uma taxa para a obra divulgada em digital, mesmo que essa tecnologia ainda não tenha chegado ao Brasil."

Outro foco de discussão que deverá dominar a Feira de Frankfurt deste ano é o fato de a China ser o país convidado, justamente quando são lembrados 20 anos do massacre da praça da Paz Celestial. A escolha foi criticada por causa da situação dos direitos humanos naquele país e das evidentes carências em relação à liberdade de expressão.

Defensor do convidado, Jürgen Boss sustenta que mais da metade dos eventos não pertence à representação oficial, organizada por ONGs, editoras independentes e instituições privadas. A presença de autores como Mo Yan e Gao Xingjian (prêmio Nobel de literatura) alimenta a esperança de que a China a ser apresentada não será apenas a oficial.

O Brasil contará com a participação de 50 expositores - 46 editoras e quatro instituições. Juntos, eles ocuparão um estande coletivo de 120 metros quadrados e deverão apresentar ao público 1.640 títulos nacionais. Na programação, o destaque é a mesa redonda Euclides da Cunha e a Identidade Latino-Americana, no Espaço Forum Dialog, a partir das 16h15 (11h15 de Brasília). Com mediação do presidente da União Brasileira de Escritores, Levi Bucalem Ferrari, o encontro vai reunir Claudius Armbruster, diretor do Instituto Luso-Brasileiro da Universidade de Colônia; o crítico literário Fábio Lucas; Leopoldo M. Bernucci, professor do Departamento de Espanhol e Português da Universidade da Califórnia; e Francisco Foot Hardman, professor do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem e Assessor Especial da Reitoria da Unicamp, além de colaborar para o Estado.

Hoje também está previsto o lançamento do novo livro de José Saramago, Caim, que chega ao Brasil no sábado, pela Companhia das Letras.


NÚMEROS

7,3 mil expositores estarão na feira

110 países estarão representados

50 expositores representam o Brasil