Sábado, 03 Setembro 2011 22:39

CBN Express Livros: os donos do poder

Os donos do poder

No “Fim de expediente” da última sexta, recebemos o economista Eduardo Giannetti. O bom papo com esse que é um dos pensadores mais interessantes que o país produziu nas últimas décadas, teve dois ou três momentos em que ainda reverberam na mente, ajudam a pensar. Relatando a experiência como colaborador de Marina Silva na última campanha eleitoral, Giannetti constata o prosseguimento de práticas identificadas e analisadas pelo fundamental “Os donos do poder” (Ed. Globo, R$ 75,00), de Raymundo Faoro. Um Estado patrimonialista que se utiliza da engrenagem pública na manutenção do status quo, não se furtando em achacar os que tentam romper com alianças a muito estabelecidas.

O Google e a leitura

Num segundo momento, o professor do Insper dá mais subsídios à fragmentação no aprendizado e na construção do conhecimento das novas gerações. O que é uma sensação vai ganhando efeitos na prática diária do ensino. Scannear, copiar, colar, substitui a leitura cerrada, a articulação que só o tempo contínuo da concentração possibilita. Mais do que efeito no cotidiano acadêmico, expõe-se aí um modo de se relacionar com o mundo, o entorno, as pessoas. Com o próprio modo de expressão do indivíduo em relação à existência. A entrevista com Giannetti está no link abaixo.
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Na Bienal

A Bienal do Rio abre na próxima quinta no Riocentro, no Rio de Janeiro, seguindo até o dia 11 de setembro. Com a explosão das feiras literárias por todo o país, o evento cada vez mais se estabelece por seu porte, estrutura, números. Reafirma sua vocação comercial, mercadológica, e menos literária, cultural. Equipara-se às feiras de outros setores, com estrutura de megaevento.

Os números

Os números reforçam a tese. Em seus 55 mil metros quadrados, distribuídos em três pavilhões, estima-se que circulará um público de 640 mil pessoas (25% estudantes), que devem adquirir 2,5 milhões de livros. Serão 950 expositores que lançarão 1000 títulos durante o evento. Com investimentos da ordem de R$ 27 milhões e faturamento estimado de R$ 53 milhões, a Bienal irá ainda receber 150 autores nacionais e 21 escritores de sete países, entre eles alguns pesos-pesados da ficção comercial como Scott Turow, Lauren Kate e William P. Young.

Uma nota longe do frenesi

Participando do evento nos últimos anos, ora como autor, ora como editor, uma sensação incômoda me acompanha em relação à Bienal. A banalização, o efeito de excursão escolar, de preenchimento do tempo, de atividade extracurricular. Tudo me faz pensar no distanciamento entre o interesse legítimo, individual, da necessidade de ofertar números maiúsculos para justificar um evento como esse. A espetacularização do livro cria adeptos do espetáculo, tenho dúvidas se produz na mesma medida o desejo genuíno de ler.

José Godoy
José Godoy é escritor e editor. Mestre em teoria literária pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), colabora com diversos veículos, como a revista "Legado", da qual é colunista, e os jornais "Valor Econômico" e "O Globo". Desde 2006, apresenta o programa "Fim de Expediente", junto com Dan Stulbach e Luiz Gustavo Medina. O blog do programa está no portal G1