No caso da realidade sócio-cultural brasileira este papel afetivo em relação ao ambiente leitor fica a cargo da escola também, como observa o autor:
"A etapa seguinte é a da escola. As enquetes mostram que, quanto maior o nível de escolaridade das pessoas, maior é o tempo que dedicam à leitura. Entre os entrevistados com ensino superior, apenas 2% não leem. O problema é que, no Brasil, poucos chegam à universidade: 43% dos jovens de 15 a 19 anos nem sequer concluem o ensino fundamental. Faltam bibliotecas em 113 mil escolas, ou seja, em 68,81% da rede pública de ensino. [...] A par disto, um grande esforço está sendo desenvolvido para estimular o hábito da leitura entre os escolares. No passado, o ensino da literatura era baseado quase que exclusivamente nos clássicos. Autores importantes, decerto, mas que falam de outras épocas, de outros locais, e numa linguagem nem sempre acessível. Hoje, as escolas trabalham também com escritores contemporâneos, e a interação com o texto é a regra. Os alunos fazem dramatizações, escrevem suas próprias versões dos textos, editam jornais na escola."
Por fim, interessante observação de Scliar sobre a relação entre emancipação em sentido amplo e acesso e fruição de bens culturais (também entendidos em sentido amplo, não só os relacionados à produção bibliográfica):
“ 'Oh! Bendito o que semeia/ livros, livros à mão cheia', escreveu, no século XIX, o poeta Castro Alves. Abolicionista, Castro Alves lutou pela libertação dos escravos, um objetivo afinal alcançado. Mas, e com isso o poeta, sem dúvida, concordaria, libertar o povo da escravidão da ignorância não é uma causa menos importante."
Ps: Le Monde Diplomatique é uma publicação interessantíssima, foge da superficilidade e da espetacularização cegadora, acredita na capacidade intelectual e crítica de seus leitores. Vale a pena conferir!
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