Segunda, 25 Outubro 2010 09:49

Um país em busca de leitores.

Neste breve e interessante artigo,( http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=758 ) Scliar apresenta uma breve história do Mercado Editorial no Brasil e outros dados.

Interessante observação é aquela feita sobre o papel fundamental que família exerce na formação do leitor:

"Aumentar a venda é uma forma de baixar o preço, mas isso só acontece quando as pessoas têm o hábito da leitura. Este, por sua vez, resulta de um processo que se desenvolve por etapas. A primeira dessas etapas ocorre na infância e depende do ambiente afetivo e cultural em que vive a criança. O conceito de “famílias leitoras”, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), não é uma realidade no Brasil: 63% dos não leitores dizem que nunca viram os pais lendo – faltou-lhes, portanto, um modelo. A TV tem sido o centro da vida familiar; aquela cena do passado, a mãe ou o pai lendo para os filhos, é uma raridade."


No caso da realidade sócio-cultural brasileira este papel afetivo em relação ao ambiente leitor fica a cargo da escola também, como observa o autor:

"A etapa seguinte é a da escola. As enquetes mostram que, quanto maior o nível de escolaridade das pessoas, maior é o tempo que dedicam à leitura. Entre os entrevistados com ensino superior, apenas 2% não leem. O problema é que, no Brasil, poucos chegam à universidade: 43% dos jovens de 15 a 19 anos nem sequer concluem o ensino fundamental. Faltam bibliotecas em 113 mil escolas, ou seja, em 68,81% da rede pública de ensino. [...] A par disto, um grande esforço está sendo desenvolvido para estimular o hábito da leitura entre os escolares. No passado, o ensino da literatura era baseado quase que exclusivamente nos clássicos. Autores importantes, decerto, mas que falam de outras épocas, de outros locais, e numa linguagem nem sempre acessível.  Hoje, as escolas trabalham também com escritores contemporâneos, e a interação com o texto é a regra. Os alunos fazem dramatizações, escrevem suas próprias versões dos textos, editam jornais na escola."

Por fim, interessante observação de Scliar sobre a relação entre emancipação em sentido amplo e acesso e fruição de bens culturais (também entendidos em sentido amplo, não só os relacionados à produção bibliográfica):

“ 'Oh! Bendito o que semeia/ livros, livros à mão cheia', escreveu, no século XIX, o poeta Castro Alves. Abolicionista, Castro Alves lutou pela libertação dos escravos, um objetivo afinal alcançado.  Mas, e com isso o poeta, sem dúvida, concordaria, libertar o povo da escravidão da ignorância não é uma causa menos importante."


Ps: Le Monde Diplomatique é uma publicação interessantíssima, foge da superficilidade e da espetacularização cegadora, acredita na capacidade intelectual e crítica de seus leitores. Vale a pena conferir!

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