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Reuniões (14)
28/02/2022 - Essa gente de Chico Buarque (Clube do Livro)
Escrito por GLENDA MÁXIMOVoltamos com as nossas Reuniões Virtuais do Clube do Livro!
A próxima reunião será no dia 28 de Fevereiro de 2022, às 17:30.
Para participar basta solicitar acesso no número: (61) 98592-8008 ou no email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Livro: Essa gente de Chico Buarque
Apresentação: Há alguns pontos de contato entre Chico Buarque e o protagonista de Essa gente, seu primeiro livro após a consagração do prêmio Camões. O escritor Manuel Duarte tem esse sobrenome de perfil vocálico idêntico, e gosta de bater perna nos arredores do Leblon. Contudo, o leitor logo descobre que isso conduz a um dos muitos becos sem saída da trama.
Autor de um romance histórico que se tornou best-seller nos anos 1990, Duarte passa por um deserto criativo e emocional, tendo por pano de fundo um Rio de Janeiro que sangra e estrebucha sob o flagelo de feridas sociais finalmente supuradas, ostensivas.
Com estrutura de diário, a reflexão sobre a linguagem – marca da ficção buarquiana – parte agora do apontamento rápido, artimanha para auxiliar a memória quando for possível dar sentido ao tumulto do presente. Ao seu melhor estilo, Chico Buarque borra as fronteiras entre vida, imaginação, sonho e delírio, e constrói uma narrativa engenhosa, em cujas entrelinhas se descortinam as contradições de um país fraturado.
"A imaginação literária de Chico Buarque é bela e peculiar. Ler sua ficção é sempre um prazer." – Salman Rushdie
"Com aparente simplicidade, Chico Buarque faz uma enternecedora, ainda que ligeiramente cômica, elegia à solidão, à mágoa, aos mal-entendidos eróticos (e literários) e à nostalgia de todas as coisas não ditas." – Lila Azam Zanganeh
FONTE: Acessado em 04/02/2021. Disponível em: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=14803
17/11/2021 - O Beco do Pilão de Naguib Mahffuz
Escrito por GLENDA MÁXIMOA reunião será às 17:30 do dia 17 de Novembro❗❗❗
Para participar basta solicitar acesso no número: (61) 98592-8008 ou no email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
O Beco do Pilão - Naguib Mahffuz
Se passa durante a Segunda Guerra Mundial, na rua sem saída que lhe dá título. Ali, num bairro pobre da parte antiga do Cairo, desfilam os protagonistas de pequenas tragédias e aspirações banais imaginadas por Naguib Mahfuz - a paixão do doce barbeiro Helu pela ambiciosa Hamida, cuja mãe casamenteira traz a felicidade de Sania Afifi, senhoria de boa parte dos moradores do beco, as fantasias do cinqüentão Alwan, a homossexualidade de Kircha, o dono do Café, a sabedoria, a religiosidade e o eterno otimismo de Radwan Hussein, entre outros. Apesar de sua forma episódica, O Beco do Pilão tem uma coesão que emerge de um lugar e de uma subjugação de todos os episódios e personagens a uma temática principal. O escritor egípcio foi o primeiro árabe a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1988
Participe conosco!
28/08/2021 - Torto Arado de Itamar Vieira Junior
Escrito por GLENDA MÁXIMOA reunião será PRESENCIAL às 18h do dia 25 de Agosto, no Café das Orquídeas, localizado na CLS 116 da Asa Sul.
Para participar basta solicitar acesso no número: (61) 98592-8008 ou no email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
E temos novidade❗❗❗
✨Cada novo integrante será presenteado com livro da obra do mês! ✨
Participe conosco!
28/07/2021 - A segunda vida de Missy de Beth Morrey
Escrito por GLENDA MÁXIMOA reunião desse mês será realizada via Google Meet.
Link da Reunião de hoje (28/07/2021 às 17:30min): https://meet.google.com/aqn-pgzq-jjy.
Cada novo integrante ganhará o livro do mês!
A Leitura desse mês é A segunda vida de Missy de Beth Morrey. Segue abaixo um breve resumo do que se trata a obra!
O mundo ao redor de Millicent Carmichael, também conhecida como Missy, de 79 anos, está diferente. Embora se apresse em dizer que considerava seu papel de dona de casa e mãe pouco satisfatório, a verdade é que Missy levou uma vida agitada cuidando de dois filhos e de um marido respeitado no mundo acadêmico. Agora que ele não está mais ao seu lado, que ela brigou com a filha e o filho se mudou para a Austrália, levando consigo seu amado neto, Missy passa os dias bebendo xerez, evitando as pessoas e vagando pela casa enorme e mal decorada esperando... o que exatamente?
A última coisa que Missy imagina é que um grupo de estranhos e uma cadela espirituosa chamada Bob vão entrar na sua vida, quebrando sua casca e mostrando quanto amor ela ainda tem para dar. Em pouco tempo, rodeada por uma comunidade alegre e diversa que encarna as várias formas de amar, Missy encontra uma nova razão para viver.
Um retrato emocionante e reflexivo sobre a vida adulta e o envelhecimento, A segunda vida de Missy é uma celebração de como os dias comuns podem ser extraordinários quando estamos cercados de pessoas queridas e do poder de perdoar a si mesmo, em qualquer idade.
BETH MORREY
Beth Morrey teve a inspiração para escrever A segunda vida de Missy durante a licença- maternidade, enquanto passeava com o filho no parque próximo a sua casa. Após conhecer a comunidade de donos de cachorros, corredores, vizinhos e famílias que frequentavam o local, ela começou a desenvolver a história de uma mulher que era salva pelas pessoas a seu redor, estranhos que se tornavam amigos. Ex-diretora de criação da RDF Television, hoje Beth escreve em tempo integral. Já teve obras publicadas na The May Anthology of Oxford and Cambridge Poetry e foi finalista da competição Grazia-Orange First Chapter. Beth mora em Londres com o marido, seus dois filhos e uma cadela chamada Polly.
FONTE: A segunda vida de Missy - Beth Morrey - Intrínseca (intrinseca.com.br)
15/06/2021 - O Edifício Yacubian de Alaa Al Aswany
Escrito por GLENDA MÁXIMORESUMO: No início do século XX, o elegante Edifício Yacubian era habitado por ministros de Estado e estrangeiros. Ao longo dos anos, as reviravoltas políticas transformaram o edifício e o centro do Cairo num cenário decadente. Então vieram os novos habitantes: provindos das classes mais baixas da população, ocuparam o teto do prédio antes destinado ao armazenamento de quinquilharias. E foi aí que começou a confusão. Passadas durante a Guerra do Golfo, as histórias deste livro - como as do velho aristocrata Zaki Bek, saudoso do Cairo europeizado, e do jovem Taha, o filho de porteiro que sonha entrar para a polícia - traduzem os dilemas de um país que, após décadas de submissão ao Ocidente, tornou a orientalizar-se. Intercalando essas tramas como numa telenovela, Alaa Al Aswany constrói personagens carismáticos que protagonizam os principais dramas da sociedade egípcia contemporânea: da opressão sexual de mulheres e homossexuais à repressão financeira da ditadura; da corrupção política ao recrudescimento do fundamentalismo religioso. "No controlado mundo editorial egípcio, em que xeiques patrulham livrarias atrás de material 'indesejável', a franqueza com que Al Aswany trata de todos os assuntos [...] é sensacional." - The Guardian
06/05/2021 - A Valise do Professor de Hiromi Kawakami
Escrito por GLENDA MÁXIMOResumo: "Outra premiada autora japonesa pouco conhecida no Brasil. Este romance foi publicado em 2012 pela Editora Estação Liberdade. Segundo a sinopse da Editora: "Em 'A valise do professor', ganhador do Prêmio Tanizaki, um dos mais prestigiosos do Japão, a prosa entrecortada e sucinta de Hiromi Kawakami nos revela a mente confusa de uma mulher embaralhando cenas reais com sonhos, lembranças e reflexões no cotidiano amoroso e solitário na megalópole toquiota, tema recorrente da autora. Tsukiko tem quase 38 anos, trabalha em uma firma e nas horas vagas bebe no bar de Satoru. Nunca foi casada e aparentemente não se importa com isso. Leva uma vida calma e sem grandes emoções, até que passa a encontrar um professor do ensino médio no mesmo bar que frequenta."
30/03/2021 - A ridícula ideia de nunca mais te ver de Rosa Monteiro
Escrito por GLENDA MÁXIMOO encontro será realizado via videoconferência, e caso queira participar é só solicitar acesso no número (61) 98592-8008 pelo WhatsApp.
Reunião às 17h no dia 25 de fevereiro de 2021, via videoconferência.
28/01/2021 - Cinzas do Norte e A noite da Espera de Milton Hatoum
Escrito por GLENDA MÁXIMOA reunião será via Zoom às 17h.
Venha participar conosco!
Mais ...
26/11/2020 - Quarenta dias de Maria Valéria Rezende
Escrito por GLENDA MÁXIMOPARTICIPANTES: Vivianne Veras; Patrícia de Souza; Iza Antunes; Adelaide Côrte; Maria Tereza Walter; Sulena Bandeira; Fabio Cordeiro; Miraildes Regino.
Imagine-se vivendo nas ruas de Porto Alegre por quarenta dias circulando por lugares inimagináveis e conhecendo pessoas totalmente diferentes do seu mundo cotidiano. Assim é o tema deste romance. Alice é uma senhora, recentemente aposentada, que mora confortavelmente na cidade praiana de João Pessoa, sozinha e está prestes a curtir a vida, quando uma reviravolta acontece. Sua única filha lhe dá um golpe e a leva para a cidade de Porto Alegre para que fique perto dela quando engravidar. Apesar de Alice não reagir e acabar se deixando levar pelos arranjos da filha, estranha demais a nova cidade e, depois de uma grande decepção, tem um surto que a leva a ficar perdida nas ruas a procura de uma pessoa que nem conhece.
Vários aspectos interessantes são tratados neste romance, ganhador do prêmio Jabuti de 2015. Em primeiro lugar, aborda a inércia de uma mãe diante dos apelos de uma filha que a convence a abrir mão de sua vida, para viver a dela. Esse comportamento é bem mais comum do que se imagina, pois ainda existe aquela visão de que a mulher sozinha (solteira ou viúva) deve se dedicar aos filhos e suas famílias, isto é, aos netos. A própria narradora se sente culpada ao cogitar não aceitar esse papel que, aos olhos da sociedade, lhe foi reservado. No seu íntimo ela o rejeita, mas não consegue se impor. Quantas mulheres aposentadas não se sentiram acuadas por esse destino? Ou quantas vezes nos sentimos arrancados de um lugar e colocados em outro sem desejarmos, seja por uma mudança no trabalho ou de cidade para acompanhar um cônjuge?
“[...] eu, calada e quieta, só ouvindo toda aquela leseira, aquilo parecendo uma cantoria de incelências na sentinela da minha antiga vida, pra todos eles já defunta”.
Segundo aspecto, trata do processo de adaptação a uma nova vida, que no caso de Alice foi extremamente difícil. Ele teve que enfrentar a solidão, já que não conhecia ninguém além da filha, que já tinha sua própria vida, no novo local. O choque da mudança de uma cidade do nordeste, de pequeno porte, para uma cidade grande do sul do país, ambas com costumes totalmente diferentes. E por fim, teve que enfrentar o preconceito, que cruelmente ainda existe em cidades do sul do país em relação aos nordestinos.
Todo esse caldeirão de emoções reprimidas transborda quando a filha comunica ter adiado a gravidez porque vai acompanhar marido em um curso no exterior por seis meses. Tudo aquilo que ela passou para agradar a filha, mesmo contra sua vontade, agora se revelou uma decepção, pois acabou por perder a única coisa que a prendia a esta cidade. Com isso, ela tem um verdadeiro surto, que foi a forma de extravasar toda a angústia e a revolta que guardava para si, e sai para a rua sem noção de quando retornar.
Apesar de ela ter a desculpa de procurar uma pessoa sem saber o nome completo ou endereço, na verdade ela não só está perdida fisicamente, mas também psicologicamente, sem rumo ou objetivo pessoal. Tal como a Alice nos país das maravilhas, em busca de outro mundo (não é à toa a escolha desse nome pela autora). Interessante observar que a narrativa do livro se dá por intermédio de uma conversa da protagonista com um caderno onde anota suas aventuras após seu retorno (que acaba acontecendo). Este “caderno da Barbie”, como passa a chamá-lo, é uma espécie alter ego, único com quem ela pode compartilhar seus sentimentos e torna-se seu porto seguro.
Outro ponto importante do texto é que nos remete a um mundo que apesar de estar presente ao nosso redor nos é totalmente invisível, que no texto ela identifica como: de gente desaparecida. Existe toda uma vida que fervilha nas ruas, com seus personagens, suas histórias e seus problemas, mas que são desconhecidos, e esse relato nos mostra o que há por trás dessas pessoas além da pobreza. O fato de usar uma escrita coloquial nos insere nesse mundo com mais facilidade.
O livro foi escrito por uma freira, que nos surpreende com uma narrativa despojada, mas forte, sobre como é duro se inserir numa sociedade estranha e arisca, e de como podemos obter ajuda de onde menos esperamos. Alice consegue um pouco de afeto de pessoas desconhecidas da periferia e das que moram nas ruas, talvez por terem em comum as suas origens nordestinas sem os ranços do preconceito. E será uma dessas moradoras de rua que a empurrará de volta.
“A voz de Lola, Basta, tu não aguenta mais, tu não precisa disso, tu vai voltar pra tua vida que a gente também não precisa de mais uma na rua, à toa.”
O livro não é totalmente autobiográfico, pois a autora não passou quarenta dias nas ruas nem teve tal surto. Ela conviveu com essas pessoas por quinze dias, num projeto social em conjunto com agentes sociais e grupos católicos. Contudo, foi o suficiente para nos oferecer um relato profundo e verdadeiro da vida nas ruas. É uma obra que mereceu ter sido premiada.
Se o leitor não conhecer bem a cidade de Porto Alegre, vale à pena entrar num aplicativo de mapa virtual e acompanhar o trajeto de Alice pelas ruas, pois algumas menções dos locais por onde ela passa são pinceladas ao longo do texto. Você com certeza se surpreenderá. Caso tenha interesse em outro relato muito bacana de alguém que teve uma experiência de vivência semelhante, segue a dica: “Crônicas do salário mínimo”, onde a jornalista Arcelina Helena Dias, relata a experiência de passar 30 dias vivendo com um salário mínimo.
27/10/2020 - Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis
Escrito por GLENDA MÁXIMOA obra consta em domínio público e pode ser encontrada nos links abaixo gratuitamente para download.
24/09/2020 - Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie
Escrito por GLENDA MÁXIMO
PARTICIPANTES: Vivianne Veras; Iza Antunes; Adelaide Côrtes; Patrícia
RESENHA:
O livro conta a história do desmoronamento de uma família nigeriana de posses, extremamente religiosa, que fora estruturada com base no controle, na violência e no abuso do pai, Eugene. Ela é contada sob o ponto de vista da filha mais nova de 14 anos, Kambili, que nos mostra essa manipulação familiar, que se estendia até a comunidade ao seu redor, tendo em vista que o pai era um empresário rico e detinha um grande poder econômico sobre a localidade. Kambili enxerga o mundo da forma limitada devido regime ao qual foi submetida pelo pai, mas mesmo assim consegue captar algumas informações aqui e ali e perceber, em pequenos detalhes do dia a dia, coisas estranhas que a incomodavam, já que muito pouco obtém da mãe e apenas uma pequena dose de Jaja, seu irmão. Nada é discutido na casa ou contestado, que não seja predeterminado pelo pai, que via a família como um objeto. Contudo, após conseguirem passar alguns dias na casa da tia Ifeona, irmã do pai, algo muda para sempre nos jovens irmãos. O silêncio é rompido e uma brecha do véu que os encobria, separando-os da realidade do mundo em que viviam se abre e mudanças dramáticas acontecem.
“Em Nuska começou a romper o silêncio. A rebeldia de jaja era como os hibiscos roxos experimentais de tia Ifeona: raros, como cheiro de liberdade, uma liberdade diferente daquela que a multidão, brandindo folhas verdes, pediu na Government Square após o golpe. Liberdade para ser, para fazer.”
O romance mistura ficção com realidade, não tanto autobiográfica, mas de pessoas e da vida diária da autora que é nigeriana. Mostra a complexidade de uma sociedade que no passado foi dominada e vilipendiada por colonizadores, e hoje vive ainda conflitos internos como resultado de diversos golpes militares pelo poder, em meio a uma desmedida corrupção.
A autora deve ter presenciado muitos acontecimentos retratados no livro, talvez por isso tenha conseguido colocar tanta vida nele e nos remete a um mundo desconhecido que é a Nigéria e a África com um todo. Ela parece fazer um paralelo entre a dominação familiar que sofre a protagonista com a dominação do seu próprio país, que começou com os portugueses e depois passou para os britânicos e só tendo sua independência em 1960. O texto coloca de forma forte e realista o mal que a imposição cultural dos colonizadores faz a um país e a sua cultura, tal como o mal que o pai fez para sua família, principalmente os seus filhos. As expressões culturais são taxadas como de segunda categoria e primitivas; a religião natural é desrespeitada; toda a leitura é substituída pela estrangeira, a começar pela definição da língua inglesa como língua oficial. Toda essa agressão à cultura e aos costumes são repetidas no ambiente da família, e o pai faz questão de separar os filhos de todo o convívio com a vida nigeriana, que é representada pelo avô que nunca trocou seus valores pelos estrangeiros.
Outra crítica que faz é sobre o papel da religião. Como missionários religiosos, cristãos em especial, se instalaram na África. Vêe com a intenção de ajudar esse povo pobre e supersticioso por meio da catequização mais que em realidade impõe sua religião em detrimento às crenças locais. A forma agressiva dessa internalização é replicada na imposição do pai à mulher, aos filhos e à sua comunidade (as pessoas o seguem mais pelo poder econômico que o pai exerce do que pela fé em si). Seja na forma de colonização, seja na conversão religiosa, vemos o perigo da visão única da realidade sendo imposta.
Mas há uma resistência, sempre haverá. O avô e a irmã, Ifeona, não concordam com a forma de vida da família e por isso foi banida por Eugene. O convívio com eles é extremamente restrito. Mas é com esses personagens que temos acesso a real cultura nigeriana: festas religiosas, alimentação típica, suas crenças e rezas. Ifeona se converte ao cristianismo, mas mesmo assim não corta a sua ligação com a cultura e crenças do seu país, o que demostra como é possível a convivência do que é de fora com o que é local. Ela consegue ter várias visões. Esta opção nunca foi cogitada por Eugene, do mesmo modo como não foi pelos colonizadores.
Outro destaque é de como as crianças são facilmente influenciadas e até doutrinadas pelos pais. A família era totalmente limitada pela religião e controlada por padrões de perfeição. A família de Ifeona, por outro lado teve acesso à modernidade estrangeira, mas com valores africanos fortes e criados com liberdade de escolha. Enquanto Eugene só tinha uma visão do mundo, a da irmã estava aberta para o mundo. A religião para ela era apenas uma forma de expressão da fé, ao passo que para o pai era usada para encobrir sua personalidade cruel, até um pouco sociopata, tal como fizeram os missionários que o educaram.
O livro é brilhante em demonstrar o choque cultural que viveu a Nigéria e outros países africanos, e o choque de Kambilli, que venerava o pai, sua única fonte de informação do mundo perante a realidade (para a qual ela sempre esteve aberta, em seu subconsciente). Apesar do quão cruelmente os colonizadores se impuseram sobre a cultura desse país, quase aniquilando-a, este tenta se reerguer, mesmo que com dificuldade. Assim também deve fazer Kambili. Recomendamos fortemente para quem quer ter outra visão da África.
21/08/2020 - O Encontro Marcado de Fernando Sabino
Escrito por GLENDA MÁXIMO
Participantes: Vivianne; Iza Antunes; Adelaide Cortes
*Reunião realizada de forma virtual
Resenha
O Encontro Marcado é o primeiro romance de Fernando Sabino, escrito em 1956, nitidamente inspirado em muitos momentos de sua própria vida, seja na adolescência, seja como escritor, especialmente sobre a angústia que envolve o processo de escrever. O livro conta a história de Eduardo Marciano, um garoto de inteligência acima de média e que possui uma curiosidade e obstinação aguçadas e com isso, desenvolveu formas de manipular as pessoas para conseguir o que quer. Esse espírito de busca de conhecimento e dedicação, também o leva à momentos de entrega obstinada, que está presente na conquista de uma namorada, no seu apego aos compromissos firmados e no anseio por ser o melhor, aliado a uma pressa de conhecer e vivenciar tudo de uma vez. Descobre a literatura ainda jovem, e seguindo seu perfil obsessivo, leu tudo o que podia. Na adolescência, se junta aos amigos Hugo e Mauro, e curtem a vida regada à muita estripulia e confusão, mas com os quais compartilha muita literatura, debates filosóficos, entremeados de citações de escritores e de poetas. Resolve ser escritor, mas ao longo da vida, apesar de toda sua obstinação, nunca consegue exercer o ofício e realizar o sonho de escrever uma obra prima. No transcorrer dos anos, Eduardo vive como se fosse arrastado pelos eventos: se casa, faz novos amigos, consegue um emprego fixo, mas se vê envolto numa eterna insatisfação, que o persegue e o faz depressivo. Como ele mesmo reflete:
“Há uma festa em minha alma por onde a substância do que sou está sempre me escapando, mas não vejo onde nem porquê.” (pg.153)
O grupo apreciou muito o livro, e chegamos a nos divertir muito com os diálogos e as trapalhadas dos três jovens amigos, cheios de ilusões, críticos do mundo, especialmente dos adultos e esbanjando arrogância, bem típico dessa fase da vida. Não pudemos deixar de fazer um paralelo com o livro já debatido neste Clube do Livro, que é “O Apanhador no Campo de Centeio” (que faz um quadro de um adolescente no final da década de 40), cuja temática também é a de um adolescente em busca de afirmação. Ambos os protagonistas são inteligentes, bons alunos, amantes de boa literatura, mas são arrogantes e estão sempre criticando a sociedade, se achando os donos da verdade. Contudo, estão sem rumo e insatisfeitos, não encontram seu lugar no mundo, levando-os a apresentarem sintomas depressivos, que no caso do Eduardo (Encontro Marcado) lhe acompanharão até a meia idade.
No Encontro Marcado, os personagens não são bem adolescentes, são jovens, que gostam de ler, mostrar e recitar trechos de obras de seus autores favoritos, que na década de 40, quando acontece a Grande Guerra Mundial, que foi rica em pensadores que questionavam e influenciaram muito os jovens intelectuais dessa época. Eduardo Marciano busca desesperadamente um sentido para a sua vida. O romance se passa, uma boa parte, na vida boêmia e intelectual dos personagens que vivem na capital de Minas Gerais, e é um passeio por bares, praças e logradouros da cidade.
Já adulto, Eduardo vive sendo levado pelos acontecimentos, na ilusão de um dia realmente se tornar escritor. Após o seu casamento, Eduardo se torna mais e mais reflexivo e introspectivo. Vive a eterna angústia de não ser o que havia pretendido. Ao mesmo tempo, não se esforça para mudar os rumos da sua vida. Muitos críticos alegam que Eduardo na verdade é o próprio Sabino, descrevendo as angústias do autor no processo de criação de uma obra.
Percebemos que o texto parece ter um pé no existencialismo, estilo literário preconizado na década de 40, principalmente por Jean-Paul Sartre, pois temas como morte, suicídio e as angústias sobre a existência humana são recorrentes ao longo do livro. Tanto o caráter arrogante do protagonista quanto os sentimentos depressivos marcam sua presença no texto.
“O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove.” (pg. 44)
Mas, e quanto ao encontro marcado? No começo da amizade dos três amigos, eles marcam um encontro para 15 anos depois, mas só Eduardo comparece. No entanto, fica a dúvida, será que esse encontro se refere a um encontro físico? O grupo levantou algumas respostas: poderia ser com a morte, a que todos temos agendado desde que nascemos, mas não sabemos quando; ou seria o encontro do protagonista com ele mesmo, aquele compromisso que ele e cada um de nós tem consigo mesmo. O final do livro dá uma pequena dica quando, pela primeira vez Eduardo resolve atender o conselho de um monge (amigo de infância) e resolve parar para refletir, e ao entrar no mosteiro, diz: ...Vim por um ou dois dias, depois....